
Engulo o riso. Trago a alegria. Deixo que fuligem cubra a minha cama. Não recolho os jornais amarelados, esquecidos na sala de casa. Não lavo os pratos que entopem a pia. Deixo a vida esperar.
Sem inspiração, escrevo platitudes. Sem viço, contento-me em espalhar palavras desordenadas na página vazia.
Em que esquina se esconde o futuro? A quadra que tudo arrasta e tudo corrói, desfigura o sonho da juventude perene. Restam perguntas, as perguntas mais confusas. Sobra angústia, a angústia mãe do desespero.
Condenados ao pó, choramos por eternidade. Cônscios do fim, caçamos o santo Graal. Frágeis, esperamos pelo improvável esquecimento de Kronos.
Meu amigo peleja contra o câncer. Sua perplexidade me esvazia de toda e qualquer inspiração. No limbo do diagnóstico, não consigo arrancar poesia das veias. A aberração da esperança não permite beleza. Resta o dever cru de vê-lo resistir. E quem sabe, dar-lhe um pouco do que sobrou de mim.
Soli Deo Gloria
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