outubro 31, 2009
Simplicidade idiota

Tentamos fazer do evangelho uma série de regras em que podemos acertadamente dizer “isto é certo” ou “isto é errado”. Como se a vida dada por Deus pudesse ser reduzida a meros erros e acertos. Como se as complexidades de nosso ser tivessem fugido ao controle do Criador.
Apenas a VERDADE pode nos libertar por que ela revela quem somos e o quanto somos incapazes de encontrar uma auto-redenção. Apenas renunciando até à capacidade de acertar, seremos encontrados aptos a genuinamente vivermos a nova vida em Cristo. Aquele que desistiu de não errar, encontra-se na situação ideal e preferida do Redentor.
Mais do que apenas abandonar as velhas práticas, a fé operosa será caracterizada como aquela que possui seu foco em SER aquilo que Cristo diz que devemos ser. Apenas isto.
Aqueles que insistirem em simplificar os processos, concentrando seus esforços na luta contra as práticas da carne, inevitavelmente se frustrarão. Pois a carne sempre vencerá. Não se pode combater fogo com fogo. Por isso, esta é uma luta perdida.
Pra exterminar o fogo, deve-se primeiramente encontrar uma fonte suficiente de água. Pra um fogo incontrolável, uma fonte inesgotável.
Em cada nuance de nossa miséria, complexidade, sentimentos e angústias; em cada pequeno detalhe, podemos sentir a inspiração do Criador.
Em cada gole, em cada respiração. Em cada segundo, a eternidade. Em cada detalhe, o infinito.
Consegue sentar-se com amigos verdadeiros de frente à praia e não sentir-se em casa?
Consegue perceber que há amigos recentes que parecem ser velhos conhecidos?
Consegue ouvir Coldplay e não sentir Deus?
Será que o evangelho realmente o tornou livre o suficiente para que possa compreender o que estou tentando dizer
Via site Ariovaldo
outubro 28, 2009
Quero ser mais humano!
É curioso como, com o passar dos anos e o aproximar da velhice, nossos valores mudam. Posições que ambicionávamos, conquistas que valorizávamos e pessoas que nos impressionavam, perdem seus encantos. Vamos fechando portas atrás de nós, para euforias juvenis e idealismos inconseqüentes. Já não invejamos o triunfo dos insolentes ou o sucesso dos ufanistas. Hoje, ainda sem ser velho, já consigo sentir indiferença para os sonhos mirabolantes dos messiânicos. Confesso que perdi, inclusive, a vontade de ter a última palavra sobre qualquer assunto e não me empolgo com debates que só dão uma falsa sensação de prestígio.
Esse processo começou, quando enfrentei uma crise, lá por volta dos meus quarenta anos. A própria consciência de que vivia na meia idade, me fez desistir de querer ser herói, conquistador, eleito especial ou semi-deus. E de lá para cá, caminho cada vez mais consciente, que muito dos meus esforços lendo, estudando, trabalhando, madrugando e virando noites, para “não perder tempo”, eram vaidade e correr atrás do vento. Olho para trás e percebo que não foi de minhas poucas conquistas ou dos reconhecimentos humanos, que obtive meus melhores contentamentos. Vieram do amor de minha família e de amigos verdadeiros; gente que não temia partilhar o mesmo jugo que eu.
Assim, fiz alguns ajustes. Redirecionei minha leitura bíblica. Mais do que saber os detalhes exegéticos ou técnicos, ansiei que a Palavra me levasse a uma relação mais íntima com Deus. Reli a Bíblia de capa a capa, procurando o coração paterno de Deus. Dialoguei com pessoas que tratam da Espiritualidade Clássica. Recompus minha vida devocional. Aprendi sobre oração contemplativa e redescobri a meditação bíblica. Devorei alguns clássicos como “A Imitação de Cristo” de Tomás de Kempis, “A Volta do Filho Pródigo” de Henry Nowen, “A Montanha dos Sete Patamares” de Thomas Merton e o “Schabat” de Abraham Joshua Heschel. Eles e outros se tornaram meus mentores nessa nova busca interior.
Talvez, a maior descoberta que faço, nesse tempo que antecede o outono de minha vida, é que minha maior vocação é tornar-me mais humano. Desejo aprender a ser generoso e sereno. Almejo rir, risos contagiantes; quero amar coisas simples e contemplar mais a natureza; saber me deliciar com arte; brincar com crianças, ler poemas e ouvir a melhor música. Preciso ser mais empático com o pobre, acolher o perdido e dar minha mão para o abandonado.
Nessa jornada espiritual, perdi o medo de me desnudar e mostrar vulnerabilidade. Outrora, eu temia a censura daqueles que poderiam se escandalizar com minha fragilidade. Tentei, muitas vezes, impressionar as pessoas com discursos valentes, quando, inseguro, pedia que Deus segurasse minha mão. Receava que algum psicólogo detectasse disfuncionalidades em mim e na minha família. Acreditava que, se alguém diagnosticasse meu envolvimento no evangelho como uma fuga, perderia toda credibilidade. Evitava contatos íntimos, para que as pessoas não notassem que eu não era tão “resolvido”, como demonstrava.
Na mitologia grega as sereias eram criaturas de extraordinária beleza e de uma sensualidade irresistível. Quando cantavam, atraíam os navegantes que não conseguiam pelejar contra seu poder de sedução. Obcecados por aquela melodia sobrenatural, os pilotos arremessavam seus navios contra as rochas da ilha, naufragavam, e as sereias devoravam os tripulantes. Os gregos relatam que apenas dois conseguiram vencer o encanto de inimigas tão terríveis. Orfeu, o deus mitológico da música e da poesia, encontrou um recurso. Quando sua embarcação aproximou-se de onde estavam as sereias, ele salvou seus parceiros, tocando uma música ainda mais doce e envolvente do que aquela que vinha da ilha. A outra solução foi encontrada por Ulisses. O herói da Odisséia não possuía talentos artísticos. Sem dons, sabia que não venceria as sereias. Reconhecido de sua fraqueza e falibilidade, concebeu outro plano. No momento em que sua embarcação começasse a se aproximar da ilha sinistra, mandaria que todos os homens tapassem os ouvidos com cera e que o amarrassem ao mastro do navio. Depois que encarou sua fraqueza e incapacidade de enfrentar as armadilhas das sereias, rumou para a ilha conforme o plano. Do mesmo modo, deu ordem aos tripulantes: mesmo que implorasse para que o soltassem, as cordas deveriam ser apertadas ainda mais. Quando chegou a hora, Ulisses foi seduzido pelas sereias como previra, mas seus marinheiros não o libertaram. Quase louco, pedindo para ser solto, passou incólume pelo perigo. O relato mitológico termina afirmando que as sereias, decepcionadas por haverem sido derrotadas por um simples mortal, afogaram-se no mar. O que salvou Ulisses não foi a percepção de sua superioridade, mas a consciência de sua fragilidade. Ele não tentou enganar a si mesmo. Eu também não quero me iludir com os meus dotes órficos. Dependerei que meus amigos me amarrem aos mastros para não ceder aos cantos sirênicos..
Assim, descanso. Sinto-me livre para afirmar que ainda estou em construção. Sou um projeto inacabado e não escamotearei minhas ambigüidades. Agora, quando me sentir cansado, terei liberdade de desabafar como Jesus: “Ó geração incrédula e perversa, até quando estarei com vocês? Até quando terei que suportá-los?”. (Mateus 17.17) Quando precisar lamentar, lamentarei, igual a ele, quando, triste e angustiado, disse: “A minha alma está cheia de tristeza até a morte”. (Mateus 26.37). Quando tiver vontade de rir, rirei e dançarei de alegria.
Hoje, já não me importo de parecer incoerente ou politicamente incorreto. Dizem que os pensamentos dos anciões tendem ao enrijecimento e que os velhos resistem mudar de opinião. Busco não me engessar, apegado às minhas velhas idéias e indiferente às novas. Quero seguir o exemplo de Jesus que, em nome da vida, não temeu contradizer as rígidas normas religiosas – Mateus 12.2-7; não respeitou os preconceitos sociais, quando conversou com prostitutas e acolheu gentios – Marcos 7.24-30; não teve receios de voltar atrás em sua palavra, para atender uma mulher siro-fenícia – Marcos 7.24-30. Permanecerei alerta para não me tornar um dogmático e faccioso; cego por minha obstinação.
Recuso encarnar o personagem de Álvaro de Campo (heterônimo de Fernando Pessoa) no poema “A Tabacaria”. A experiência do poeta foi acordar do próprio passado, como um pesadelo e perceber que perdeu contato com a sua própria alma. Viveu uma mentira da qual não pôde escapar. Perdido de si mesmo, não se encontrou mais.
“Vivi, estudei, amei, e até cri,
E hoje não há mendigo que eu não inveje só por não ser eu...
Fiz de mim o que não soube,
E o que podia fazer de mim não o fiz.
O dominó que vesti era errado.
Conheceram-me logo por quem não era e não desmenti, e perdi-me.
Quando quis tirar a máscara,
Estava pegada à cara.
Quando a tirei e me vi no espelho,
Já tinha envelhecido “.
Anseio por uma humanidade não fingida, que não tenta transformar a mensagem do evangelho em um espelho mágico, que fala o que desejo ouvir. Lerei a Bíblia também contra mim. Permitirei que, como espada, ela penetre no mais profundo de meu ser, discernindo, inclusive, as intenções nebulosas de meu coração.
Atenderei a admoestação do profeta Miquéias (6.8): “Ele mostrou a você, ó homem, o que é bom e o que o Senhor exige: pratique a justiça, ame a fidelidade e ande humildemente com o seu Deus”.
Acredito que vem dele, minha teimosia de acreditar que não precisamos esperar morrer para começar a viver. E como passamos rapidamente, sugiro que comecemos já.
Soli Deo Gloria
Via site Ricardo Gondim
outubro 25, 2009
outubro 24, 2009
Complexidade a serviço da simplicidade

outubro 22, 2009
Angústias da alma

As angústias da alma nos jogam de um lado para o outro e não sabemos se nos basta um calmante ou uma oração, ou ambos. Não se sabe se o apelo vem da imanência ou da transcendência. Não é possível distinguir o necessário: o pão ou a providência, o aplauso ou o significado, o sexo ou o afeto, o prazer ou o arrebatamento. Na verdade, não sabemos sequer se uns existem sem os outros, ou, por exemplo, onde estará o afeto sem o toque, a providência sem a mesa posta, a realização sem o reconhecimento, o significado sem a aprovação, o êxtase sem a sensação. Pode o faminto experimentar a segurança; a presença conviver com a solidão; o útil permanecer anônimo?
De noite na cama, custo a pegar no sono, pois minha mente não para, meu corpo não aquieta, meu espírito não silencia. O coração acelera, a criatividade dispara, as preces se multiplicam. Outra noite percorri mentalmente, passo a passo e em ritmo lento, os 10Km que percorro quase diariamente em minhas corridas matinais no campus da Universidade de São Paulo (USP). Adormeci. Meu exercício predileto, no entanto, é me imaginar andando sobre as nuvens, calça larga e arregaçada de um algodão leve bege clarinho e um camisão tipo bata, branco, escorrendo para fora da calça. Diante de mim um imenso arquivo de madeira, branco patinado, com gavetas abertas e em cada gaveta uma etiqueta com a inscrição de um objeto de minhas preocupações, ansiedades, sonhos, responsabilidades e amores: uma gaveta para minha esposa, uma para cada um dos meus filhos, minha mãe, meu trabalho, meus amigos, meu futuro, e o paradoxo do mundo distribuído em incontáveis gavetas, que percorro lentamente até mergulhar no sono.
Caminho lentamente entre as nuvens, como que flutuando, com o único esforço de fechar cuidadosamente cada gaveta, num gesto de gratidão, devoção e consagração: fechar a gaveta é entregar seu cuidado às mãos de Deus. Assim oro todas as noites. Assim vou desacelerando a alma, diminuindo e cadenciando o coração, tratando cada fantasia e administrando cada conflito... Assim oro todas as noites. E durmo sem saber quais gavetas ficaram por fechar.
Mas a cada manhã, com o sol, também se levanta minha alma. E com ela suas angústias. E sobre tudo, a misericórdia e a bondade de Deus, que me seguem todos os dias da vida. A alma angustiada retoma seu caminho, põe o pé na estrada, mangas arregaçadas, até deitar-se à noite, com o coração batendo acelerado, a mente rodando em velocidade incalculável e o esboço do dia seguinte rabiscado na tela da madrugada. As gavetas estão todas abertas novamente. E lá se vai o andarilho das nuvens, fechar uma por uma, de novo e mais uma vez, até que as luzes se apagam. Todo dia, toda noite. Tudo jamais igual.
Os encontros e desencontros do dia estão nas primeiras gavetas: frases pela metade, falas desconexas, palavras mal-ditas; vergonhas e virtudes; pessoas – de perto, de longe, de sempre; tarefas inacabadas e projetos deflagrados; mais vontades, mais planos, mais promessas, mais, e cada vez mais. Mas as gavetas mais pesadas e difíceis de empurrar são as que carrego comigo durante a caminhada diária. Pego cada uma delas todas as manhãs e as levo para a luz do dia. Nem sempre consigo colocá-las no armário branco do chão das nuvens, e quando ficam amontoadas ao pé da cama, são prenúncio de noites mal dormidas. São estas as maiores angústias. E delas ainda não consegui me livrar completamente. São três as gavetas pesadas: a gaveta da integridade, da criatividade, e da legitimidade.
Minha gaveta da integridade é muito pesada: o esforço sem tréguas, para preservar o coração puro e as mãos limpas. Manter distantes coisas como a inveja, a ganância e a cobiça; o ódio, a mágoa e o ressentimento; o cinismo, a desesperança e a incredulidade; a preguiça, a indolência e a displicência; o orgulho, a vaidade e a prepotência. Conviver com olhares, cartazes e esbarrões; propostas, ofertas e insinuações; possibilidades, oportunidades e devaneios; promessas, presentes e pretensões; notícias, informações e presságios; eu, tu, eles – nós, todo dia, toda hora... viver é mesmo muito perigoso, digo, maravilhoso.
A outra gaveta, da criatividade, não pesa menos: o trabalho incessante para conseguir “the master piece”, a obra prima, o grande feito, a grande sacada, o grande insight, a tacada de mestre. Provavelmente isso tem a ver com o anseio por relevância, aquela coisa de deixar um legado, oferecer o melhor dos talentos e habilidades para o bem comum. Talvez, em termos mais infantis ou egocêntricos mesmo, algo como escrever na porta do banheiro do museu em New York “erk esteve aqui”. Que loucura isso de desejar ser contado entre os gênios da raça... viver é mesmo muito cansativo, digo, criativo.
A última gaveta é mais uma idiossincrasia, uma encucação particular e bem pessoal. Ou, quem sabe, coisa de consciências mais sensíveis. A meu respeito, prefiro a primeira opção; concedo a segunda para pessoas como você. Trata-se da gaveta da legitimidade. Advirto que somente pessoas que se julgam privilegiadas têm que abrir e fechar esta gaveta – ou carregá-la. No meu caso, sofro muito com ela. Desde sempre acredito que Deus marcou um “x” nas minhas costas e colocou alguns anjos especiais no meu encalço. Tenho mais do que preciso e, graças à bondade dos amigos e de pessoas que querem demonstrar sua gratidão para comigo sem que eu nem mesmo saiba o que foi que fiz, acessos que meu dinheiro jamais pagaria. Tenho uma vida boa e me considero feliz e realizado. As coisas onde ponho a mão, geralmente dão certo, e raramente ouço “não” como resposta (sim, é verdade, não peço muito). O problema disso é que toda vez quando me dou conta da minha bem-aventurança, lembro da desventura dos outros. Outro dia li que 7 dólares prorrogam a vida de uma criança por uma semana em algum canto do terceiro mundo. Pronto, já não consigo ir ao cinema sem considerar a legitimidade de gastar para curtir o último do Shyamalan, regado à pipoca e chá gelado. A questão é: num mundo de desigualdades e sociedades miseráveis, o que se pode considerar um prazer legítimo? E me diga lá, por que minha vida – que já foi, sim, tocada pela tragédia – é tão boa, enquanto a de outros – inclusive os que eu amo – sofrem tanto? Enfim, uns com tanto, e outros com tão pouco... viver é mesmo muito injusto, digo, gratificante.
Por essas e outras é que minha alma vai dormir exausta. E haja gaveta pra fechar... Por enquanto, sigo meu caminho sob o epitáfio da Olga Benário: lutando pelo justo, pelo bom e pelo melhor do mundo.
Via site konzept
Meu compromisso com a vida

Para refazer meu compromisso com a vida, abandono o rigor de um humanismo idolátrico. Não idealizo as iniciativas ideológicas. Sei que toda instituição convive com o germe de sua própria inutilidade. Também não me prostro no altar do niilismo; descreio da capacidade humana de erguer-se pelos próprios cadarços. Meu existencialismo é frágil, carregado de suspeita. Minha religião, cheia de decepção. Minha ideologia agoniza debaixo dos escombros da modernidade.
Para refazer meu compromisso com a vida, largo na beira da calçada as metas-narrativas. Desconfio dos projetos globais. Incoerência entre discurso e prática me desesperam. A incapacidade de vertebrar o que acredito de coração me enoja. Criei cismas. Rio por dentro; é meu jeito de sobreviver aos ufanismos que tanto me irritavam no passado. Sei que preciso aniquilar os fantasmas que me deixaram com a sensação de ser um deus.
Para refazer meu compromisso com a vida, desisto de tentar levar a ferro e a fogo qualquer coisa. Erros me fizeram bem. Boas ações me arruinaram. Amigos me entristeceram. Desconhecidos me acolheram. Quando planejei, empaquei. Por outro lado, inesperadamente a vida deu certo sem planejamento. Sofri também com pecados. Paguei um alto preço por ser indolente. Mas, incrível, quando deixei para o dia seguinte o que deveria fazer hoje, foi bom.
Para refazer meu compromisso com a vida, quero ser leve como a pluma que escapou da asa do cisne, denso como o ruço que cobre a madrugada, escuro como a noite tropical sem lua, e transparente como o mar do Mediterrâneo. Hei de aprender a não discursar. Almejo ser mais enfático mas só em ternura; mais brando em afirmações. Pretendo rearrumar minha oratória. Quero voltar a olhar para o nada, como as crianças; a entrecortar frases com longas pausas, como os monges; a ritualizar os instantes, como os namorados.
Para refazer meu compromisso com a vida, espero envelhecer sem casmurrice. Acolher as doidices dos jovens, lembrando de como as minhas faziam sentido. Celebrar cada manhã como uma ressurreição. Aguardar o pôr-do-sol como uma grávida anseia pelo primeiro choro do filho. Plácido como um lago entre duas montanhas, espero encarar a morte. E que não reste nenhuma nesga de frustração em minha alma. E que eu descanse no sábado final com um sorriso maroto, sorriso de quem foi embora dizendo: valeu viver.
Soli Deo Gloria.
Via site Ricardo Gondim
outubro 21, 2009
Vivemos ávidos de felicidade
Ébrios, buscamos a felicidade; encarnamos personagens pascalinos – “Até os suicidas se enforcam na ânsia de serem felizes”. Os parachoques de caminhão ensinam que "dinheiro não traz felicidade". O contrário, menos popular, também é verdadeiro: Esmolamos qualquer dinheiro para ser felizes. A felicidade ganharia qualquer concurso como padroeira última e maior da existência.
Por anos imaginei que bastaria professar a fé cristã para, automaticamente, encontrar um Nirvana de delícias. Contudo, aprendi, ao longo dos anos, que muitos cristãos, na verdade, nunca experimentaram nenhuma nesga do Paraíso.
Aliás, já deparei com não cristãos gozando uma vida mais ajustada, mais redonda, mais plena do que muitos piedosos. Pastores e sacerdotes deveriam ser mais claros e avisar: A fé cristã não significa felicidade automática.
Há pouco, ouvi um programa evangélico alardeando: “Se você passa por dificuldades, se tem tribulação, basta dizer sim para Jesus e será feliz”. Sem gaguejar, o pregador declarou: “Deus está à sua disposição. Ele quer lhe tirar do sufoco". Depois emendou: “Repita a oração que eu garanto, sua vida será transformada em um piscar de olhos”.
Basta uma semana em qualquer comunidade evangélica para constatar que não acontece assim. Inúmeros convertidos lutam contra miséria em periferias urbanas. Os mais favorecidos não entendem o porquê de mesmo com folga financeira continuarem angustiados, apavorados, sufocados por dívidas no cartão de crédito, ansiosos, irritadiços, insones e nervosos. A pregação, “se converta e você será feliz” é tão falsa quanto um diamante vendido por vinte dólares.
Vida abundante não se acha, é construída. No Sermão da Montanha, os bem-aventurados são chamados de "felizes" não porque passaram por uma experiência mística ou esotérica, mas como resultado do jeito que vivem.
Felicidade não cai do céu. Não vem de fora para dentro, mas flui de dentro para fora. Anjos não brindam as pessoas com alegria. Na cartilha de Jesus o caminho é outro. Buscar o reino de Deus e sua justiça faz brotar os ingredientes que geram felicidade. Para ele, felicidade nunca é estação, mas maneira de viajar.
Eis o motivo porque ser feliz parece difícil. Os caminhos que conduzem a um patamar mais excelente passam por ações pouco atrativas. Quem se arrisca preferir os outros ou esvaziar-se do sonho de virar um semideus? Humildade, indisposição para a arrogância são o contraponto do Evangelho. Daí: “Bem-aventurados os humildes de espírito, porque deles é o reino dos céus”.
Cristo foi diretivo: “Aprenda a chorar”. Paradoxal ao mundo, felicidade tem a ver com sensibilidade, ternura, fragilidade. Por isso: ”Bem-aventurados os que choram, porque serão consolados”.
Também insistiu em um tema pouco popular: “Queira ser manso”. Jesus entendia que mansidão significa abrir mão de reivindicar prerrogativas egoisticamente; significa desistir de querer sempre ganhar. Por isso: “Bem-aventurados os mansos, porque herdarão a terra”.
Cristo indicou o código para uma mente tranquila. “Atreva-se a amar o que é digno”. Os que almejam a felicidade devem, em todos os atos, fazer sempre a pergunta: “Será que isto é justo?”. Para ele, quem ama a justiça e nutre um desejo enorme de vê-la praticada, será feliz. Então: “Bem aventurados os que têm fome e sede de justiça porque serão fartos”.
As palavras de Jesus ainda ressoam: “Queira ser misericordioso para com os fracos, paciente com os que não conseguem alcançar seu padrão e compreensivo com os que se atrasam, fracassam e tropeçam em seus próprios erros”. A atitude empática para com os derrotados desemboca na felicidade. Tal pessoa encontrará compreensão no dia em que precisar, portanto: “Bem-aventurados os misericordiosos porque eles encontrarão misericórdia”.
Jesus convocou seus seguidores a serem coerentes: “Busque ser limpo de coração”. Não permita sombras, caminhos dobres, torpeza, hipocrisia, falsidade ou dolo. Para ele, quem vive uma vida honesta, será feliz. E sua declaração chegou às raias da mais esplêndida ousadia: “Bem aventurados os puros de coração porque eles verão a Deus".
Jesus incentivou a concórdia e ordenou que se promovesse a paz: Não seja agente de cizânias, jamais catalise ódios, não suscite a vingança e nunca espalhe dissensão. Reconcilie os que se odeiam, reuna os diferentes, promova o amor e você será feliz. Daí o texto: “Bem aventurados os pacificadores porque eles serão chamados filhos de Deus”.
Ele aconselha a seus seguidores que sejam pessoas de idéias nítidas, convicções sólidas, pontos de vista verdadeiros. Se essa postura trouxer o ódio alheio e se sua fé não for bem aceita, continue, a história premiou todos os que se comportaram assim. Os claudicantes, os pusilânimes, os covardes jazem nos armazéns do Hades. Ninguém lembra o opressor, os perseguidos são lembrados. O texto reza: “Bem-aventurados sois quando, por minha causa, vos injuriarem, e vos perseguirem, e mentindo disserem todo mal contra vós. Regozijai-vos e exultai, porque é grande o vosso galardão nos céus; pois assim perseguiram aos profetas que viveram antes de vós”.
Felicidade não é circunstancial, ponto final.
Soli Deo Gloria
Via site Ricardo Gondim
outubro 20, 2009
outubro 12, 2009
A Simplicidade da música, ou a simplicidade da vida!

'' Eu diria também: A filosofia não passa de uma opinião sofisticada, mais no sentido não pejorativo da sofisticação, no sentido em que é sofisticado, dizem-nos os dicionários, o que é ''requintado. complexo, evoluído''. Mais vale um aperelho de som sofisticado do que um vulgar toca-discos; mais vale uma filosofia do que uma opinião vulgar! O caso é que, no fim das contas, temos a simplicidade da música ou da vida - a simplicidade da sabedoria. Você deve conhecer este tipo de gente que prefere seu aparelho de som à música ... Também conheço alguns que preferem a filosofia à vida, o que me parece um contra-senso da mesma ordem. A técnica mais sofisticada só tem sentido a serviço de outra coisa, por exemplo, a serviço da música. Do mesmo modo, a filosofia só tem sentido a serviço da vida: trata-se de viver melhor, de uma vida ao mesmo tempo lúcida, mais livre, mais feliz ... Pensar melhor para viver melhor.É o que Epicuro chamava filosofar para valer, em outras palavras, para sua salvação, como dizia Spinoza, e é essa a única filosofia que presta. Ninguém filosofa para passar o tempo, nem para brincar com os conceitos: Filosofa-se para salvar a pele e a alma."
André Comte - Sponville - "O Amor e Solidão" -(Editora Martins Fontes)outubro 11, 2009
Vinho Novo

outubro 10, 2009
O “Desvangelho” da Prosperidade.

outubro 08, 2009
Caminhando lado a lado

Permaneceu imóvel em sua varanda por um segundo, a chuva caía tão bela. Aspirou o ar úmido familiar de essências de plantas desconhecidas, sorriu. Desta vez, sem mover os lábios. Caminhou embaixo do seu guarda-chuva. Gostava desta que era hoje. Sentou-a para apreciar o café, o waffle com chocolate e a música ambiente brasileira - talvez em sua homenagem, pensou - enquanto aguardava o ônibus. Concedeu por um instante o desejo de uma companhia. No próximo, contudo, assustou-se com a crescente constatação de que sua própria companhia, ela mesma, não era de todo mal. De fato, era até agradável, cômoda.
O compacto ônibus com as letras conhecidas gravadas nas laterais levou-a até seu destino. Adentrou as portas do enorme salão já cheio e sentou-se ao lado do senhorzinho de cabelos brancos. Também não havia se acostumado com o fato de estar ali, era como se tudo fosse um sonho do qual acordaria a qualquer momento. E quem pode dizer o contrário? Concedeu o desejo de uma companhia, ou talvez muitas, desta vez. Sentiu-se pequena. Queria dizer àquele homem que pregava à frente da igreja o quanto sua vida era inexplicavelmente abençoada pela simples existência da dele. Sentiu uma lágrima escapar de seus olhos e escorrer, sem permissão, rosto abaixo. Outra, e outra. Cessou-as juntamente com os soluços silenciosos. Tudo o que queria era... sentir Deus. De súbito, sentiu um "cutucão" no ombro esquerdo. Virou-se. O senhorzinho de cabelos brancos, estendia um papel amarelo dobrado ao meio em direção à sua mão. Tomou o papel, sorriu e teve certeza de que, mesmo quando não sentia, Deus a sabia.
Via Blog das 30 Pessoas
Buscai primeiro as outras coisas e o reino de Deus ...(13)
Fundam uma igreja ora veja onde já se viu
Enriquecer com a fé alheia
Puta-que-pariu
E é inútil tentarmos abrir os olhos do povo
Pois se um abre os olhos mil olhos fecham de novo
E eles dizem que você está com o demônio
Mas o demônio habita no seu patrimônio
E eles farão o favor de tomar toda sua grana
Porque a grana pra eles é uma coisa profana
Só que aí o demônio vai parar com quem?
No bolso do pastor, e do bispo tamém"
Gabriel, O Pensador
outubro 07, 2009
Honestamente...

na igreja pensando na minha moto."
Modificado mas via: PAVABLOG
outubro 06, 2009
O sono da morte

Vivemos como pêndulos suspensos por fios de seda. Dependemos de mãos desconhecidas. Somos delicado cristal, perigosamente estilhaçáveis. Insistimos no colo que nos aqueça no inverno.
Vivemos no limiar da morte, à espera da Fortuna que, muitas vezes escondida numa esquina sombria, foge de nós. Padecemos do mal da solidão. Sofremos de febre existencial; febre que mata sem calor.
Vivemos rodeados por armadilhas. No caminho, ameaçados por minas prestes a explodir nossas pernas. Tornamos todos os silêncios, ardis, todas as falas, contrafações, todos os gestos, seduções. A travessia vira um beco sombrio. Assombrados, viajamos com pressa. Inconformados, vemos as vielas se contorcendo em labirintos lúgubres. Fatigados, notamos a jornada longa; que se dissolve no infinito.
Vivemos na ante-sala do desespero. Toda a lucidez não aplaca o choro do nosso coração, toda a loucura não espairece a sede do nosso espírito, toda a sisudez não asfixia o grito das nossas vísceras. Sabemo-nos incompletos. Vemo-nos retalhados. Reconhecemo-nos bestiais.
Vivemos nas franjas de um oásis transcendental. Ouvimos o murmúrio de águas, paradoxalmente, próximas e inalcançáveis. Angustiados, esboçamos uma única petição: “Até quando, Senhor? Esquecer-te-ás de mim para sempre? Até quando ocultarás de mim o rosto? Até quando estarei eu relutando dentro de minha alma, com tristeza no coração cada dia? Atenta para mim, responde-me Senhor, Deus meu! Ilumina-me os olhos para que eu não durma o sono da morte” (Salmos 13).
Soli Deo Gloria
Via site Ricardo Gondim
outubro 03, 2009
outubro 02, 2009
Limpeza de Alma e de Bunda

Carta enviada ao Caio Fábio e sua resposta a ela.
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A CARTA
Caio, após ver o vídeo das criancinhas da Nigéria, estava eu navegando pela blogosfera (e não encontrei nenhuma referência a esse vídeo das criancinhas), mas um outro vídeo que está escandalizando muitos crentes:
O problema foi falar a "palavra maldita" no "templo sagrado" onde só se pode falar em "almeidês" ou "kingjamês", e nunca se referenciar as partes do corpo feitas pelo capeta (é devem pensar).
Ora, é nessas horas que eu entendo quando Jesus falou aos fariseus, que coavam mosquitos e engoliam camelos...
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A RESPOSTA
Mano amado: Graça e Paz; e muita graça da paz... com risos!...
Em “igrejas” o que importa é a palavra, e não a Palavra; o que é importa é o que a palavra, como conjunto de letras, forme..., e não o seu significado; o que importa é a expressão, e não a comunicação; o que importa é fraseologia, e não o que se diz; o que importa é o escrito ou falado, e não o que foi dito...
Quase morro de rir da palestra do Dr Jajáh sobre Dicas de higiene...
O que foi dito deve ter chocado apenas os que lá não estavam..., pois, os que lá estavam gostaram muito e se divertiram a valer...
Ora, o que chocou foi o doutor ter falado do cu..., chamando o bichinho pelo seu nome intimo..., e não tratar o aparelho de evacuação sem a formalidade eclesiastica de seu nome, como se fosse o Reverendo Ânus...
Cu é nome de obreiro [...] do mal...
Ânus é nome de reverendo...
Sim, esse foi o choque...; posto que “crente” não tenha cu...; visto que cu é coisa de descrente...
“Crente” não se trata com tal intimidade...
Intimidade com o corpo, para “crente”, é pecado...
Se para o “crente” o corpo é mal, que não dizer do cu?...
Por isto é que “crente” coa o cu e engole cumelo, ou mesmo a manjuba gigante do abismo...
Quem não gostou certamente foram os ausentes..., pois, entre os presentes, quem disser que não gostou está mentindo... Inclusive conheço três pessoas que estão presentes na sala do vídeo... rsrsrs.
É claro que o doutor, que é um nordestino arretado e bem humorado, estava usando a palavra com toda consciência, a fim de estimular algo que, higienicamente, é necessário... rsrsrs; ou seja: lavar bem o próprio rabo...
O choque que a palestra do doutor causou entre os fariseus bem demonstra o significado também do modo como a “igreja” trata o “Corpo”, não apenas o corpo físico, mas o Corpo de Cristo.
A “igreja” lava as mãos [depois do mal fazer...], os pés [quem sabe?... depois do mau caminho...], a cabeça [para fins de aparições...], os joelhos [depois de orar em público...], os olhos [depois de cobiçar no templo...], etc...
Sim, os “crentes” pé, mão, joelhos, olhos, cabeças, etc... — podem ser lavados... Mas os que são crentes - partes - íntimas, acerca de quem Paulo diz que devam ser tratadas com maior carinho, essas partes, como o cu e as genitais... do Corpo Espiritual..., são justamente tratadas com desamor e desrespeito...
Leia I Corintios 14 e você entenderá o que estou dizendo!...
O “crente” de partes aceitáveis do Corpo são tratados bem até que virem cu ou genitália nas contingências da vida... Se tal acontecer na mesma hora a pessoa é exposta como sendo cu...; e é jogada no inferno das bostas; pois, diferentemente do que Paulo diz, a “igreja” não tem tais coisas...; não tem rabo; e, por isso, anda com essa catinga toda; ou, então, para não admitir o rabo, toda vez que alguém defeque, tal pessoa será descartada...
Na “igreja” não se lava o rabo...
Por isto em “igreja” o maior sonho era que o cu fosse descartável...
Usado?... Então... jogado fora!... Vez a vez... Toda vez!...
Aliás, embora quem seja jogado fora vá por inteiro..., na “igreja” parece que gente-cu não existe; e se existe é para ser jogada fora sem lavar e sem que se veja...
A mão que rouba, o pé que escolhe o erro, o joelho que fica de quatro pro diabo, a mente cheia de lixo de pensamento... Tudo ruim..., mas não é nada...
O problema é o cu...
É por isto, como disse o doutor, que fica essa catinga toda, pois, lava-se tudo..., menos o cu.
Ora, as tarefas do cu, todavia, são todas naturais... Bem mais naturais do que a da mão que rouba, do pé que escolhe o mau caminho ou do joelho que fica de quatro para o diabo...
Na realidade o que fez os fariseus ficarem loucos deve ter sido o fato que o doutor disse que iria “checar” quando encontrasse os irmãos... Sim, disse que veria se eles estariam ou não tratando bem o cu...
Este é o problema... fariseu não lava o bichinho... Sim, fariseu somente lava o que aparece!... Se cu ficasse na cara viveria bem lavado...
Ah, tudo o que o doutro disse não só é higiênico..., mas também faz o sexo ficar muito mais agradável...
As mulheres agradecem ao doutor, pois, o que tem de homem que não lava o rabo..., não está escrito nos anais da religião!... Rsrsrs.
Agora ficarão escandalizados com minha carta em resposta à sua, tratando do problema do cu e do discurso do doutor... Rsrsrs.
“Agora, daqui pra frente, lava... Na hora que eu encontrar vocês, vou conferir... Vou conferir... Vou conferir...!”—foi isso que chocou a moçada que não lava nem o seu próprio e nem deixa que os outros se lavem...
Jesus tratou o ânus com todo amor... Disse que o problema não é o ânus, mas o coração... O ânus apenas expele o que o corpo processa... Mas o coração cria... [Marcos 7].
Esse pessoal que se escandaliza, no entanto, não tem coração, mas apenas curação...
Receba meu amor e minhas risadas gratas nesta manhã de sábado.
Nele, que disse aos fariseus acerca do Corpo Espiritual exatamente o mesmo que o doutor disse do corpo físico: “Lavem, pois eu vou conferir...”,
Caio
26 de setembro de 2009
Lago Norte
Brasília
DF