
Permaneceu imóvel em sua varanda por um segundo, a chuva caía tão bela. Aspirou o ar úmido familiar de essências de plantas desconhecidas, sorriu. Desta vez, sem mover os lábios. Caminhou embaixo do seu guarda-chuva. Gostava desta que era hoje. Sentou-a para apreciar o café, o waffle com chocolate e a música ambiente brasileira - talvez em sua homenagem, pensou - enquanto aguardava o ônibus. Concedeu por um instante o desejo de uma companhia. No próximo, contudo, assustou-se com a crescente constatação de que sua própria companhia, ela mesma, não era de todo mal. De fato, era até agradável, cômoda.
O compacto ônibus com as letras conhecidas gravadas nas laterais levou-a até seu destino. Adentrou as portas do enorme salão já cheio e sentou-se ao lado do senhorzinho de cabelos brancos. Também não havia se acostumado com o fato de estar ali, era como se tudo fosse um sonho do qual acordaria a qualquer momento. E quem pode dizer o contrário? Concedeu o desejo de uma companhia, ou talvez muitas, desta vez. Sentiu-se pequena. Queria dizer àquele homem que pregava à frente da igreja o quanto sua vida era inexplicavelmente abençoada pela simples existência da dele. Sentiu uma lágrima escapar de seus olhos e escorrer, sem permissão, rosto abaixo. Outra, e outra. Cessou-as juntamente com os soluços silenciosos. Tudo o que queria era... sentir Deus. De súbito, sentiu um "cutucão" no ombro esquerdo. Virou-se. O senhorzinho de cabelos brancos, estendia um papel amarelo dobrado ao meio em direção à sua mão. Tomou o papel, sorriu e teve certeza de que, mesmo quando não sentia, Deus a sabia.
Via Blog das 30 Pessoas
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