Lembro-me que na minha adolescência, nos momentos de tristeza eu pegava o violão ia para fundo de minha casa e lá cantava e escrevia algumas canções como forma de desabafo e "superação", digamos assim. O tempo passou e eu cresci, e quando isso aconteceu, demorou muito para enxergar que basicamente "crescer" não era o melhor caminho.
Com 19 anos deixei as rodas de samba e a boemia na capital mineira para estudar administração e ser um homem "sério" (detalhe comecei com 15 para 16 anos na noite), a música não dava muita grana, e creio que meu "amor" pelo samba não sobreviveu à escassez de capital (risos). Assim fui para a faculdade, comecei uma nova vida, quis ser grande, e ai tudo mudou.
Quando comecei a crescer, esqueci da contemplação que me fazia um adolescente sonhador que poetizava a vida, e os dramas em linhas de sambas escritos nos humildes botecos da periferia mineira, ou até mesmo no quintal de minha casa lá no aglomerado Serra, que, em minha opinião, tinha a visão mais bonita para se tomar café e fumar nas noites frias. Com as supostas responsabilidades da nova vida, vieram também as competições, as necessidades de um bom MKT pessoal, e um mundo cheio de gente grande me forçando a crescer, enquanto eu queria continuar a viver uma vida despretensiosa como menino. Isto tudo gerou conflitos, as pessoas me olhavam e me encaravam como um jovem de potencial. Que tinha talento para ser um homem de "sucesso", e eu em contra partida entrava na dança. O sistema tocava o ritmo e eu dançava, um dia acordei, e notei que minha vida havia mudado, eu que outrora sonhei com uma casa simples no pé do morro, com janelas vermelhas, um cachorro vira lata no quintal, uma esposa linda e companheira, e os filhos grudados em minha perna, me via com belos carros, belas casas, e tudo mais.
O tempo passou, e um dia acordei e vi que meu orgulho havia me dominado que minha alma estava daltônica, que o medo era parte de minha vivência, e que a loucura batia a minha porta. A decisão de ser "grande" me cobrou o seu preço, as competições do mundo dos "adultos" não é para quem quer ser do bem, elas não são saudáveis, os jogos de interesse, aliados com o orgulho, gerou um ser sem amor, sem estima, sem caráter, pois cada dia o jogo me levava ao MKT pessoal, que por várias vezes entram em conflito com um ou outro valor de minha consciência, e quando isso ocorre ou se retrocede, ou morre. Eu morri.
Um dia acordei me senti sem alma, sem vida, sem perspectiva, e quando isso aconteceu corri para o mais obvio caminho que é o da religião. Por lá fiquei um pouco mais doente (risos), pois demorou muito para alguém me dizer a verdade, alguém me parar e falar; a culpa disso tudo é sua. E com isso foi ficando mais doente, pois a chaga estava lá, precisava ser tratada, estava na minha alma, e todos diziam que era fruto das maldições, do capeta, de tudo, menos do meu orgulho e de minha irresponsabilidade.
Demorou muito até chegar os resultados, e nisto a vida continuou. Lutei contra o medo em meus locais de trabalho, em meus relacionamentos, e a vida continuava enquanto aos poucos ia enxergando um detalhe ou outro. Passaram-se 4 anos, em que as lutas são constantes, pois o mundo me instiga todos os dias a continuar a competição. Ela me cercou nos trabalhos, em casa, e por fim no meu relacionamento, que foi destruído pelo "game".
Hoje me vejo retroceder, fazer o caminho contrário, em quanto às pessoas jogam, eu me rendo, estou mais para ser crucificado, do que para crucificar. Nisto me vejo voltando a infância, as músicas como forma de desabafo, a minha casa com janelas vermelhas, a vida simples. Espero que continue assim, isto tem me dado paz em meio às adversidades, e creio que tem me mostrado os valores de uma vida verdadeiramente Cristã.
Sabe, fico muito triste em ver as pessoas assim, pois estes sentimentos e comportamentos anulam o que temos de melhor que é a compacidade de contemplar e se relacionar.
E não desejo este inferno nem para o meu pior inimigo
Por Thiago Ferreira dos Anjos
25/01/2010.
Belo Horizonte - MG
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