abril 11, 2009

Questões existenciais ou simplismente - "Perplexidade"

por Ricardo GondimTem dias que a alma pesa como chumbo. As palavras, insípidas, perdem a magia. A memória do pesadelo, mais forte que a realidade, perdura com o clarear do dia.


Engulo o riso. Trago a alegria. Deixo que fuligem cubra a minha cama. Não recolho os jornais amarelados, esquecidos na sala de casa. Não lavo os pratos que entopem a pia. Deixo a vida esperar.

Sem inspiração, escrevo platitudes. Sem viço, contento-me em espalhar palavras desordenadas na página vazia.

Em que esquina se esconde o futuro? A quadra que tudo arrasta e tudo corrói, desfigura o sonho da juventude perene. Restam perguntas, as perguntas mais confusas. Sobra angústia, a angústia mãe do desespero.

Condenados ao pó, choramos por eternidade. Cônscios do fim, caçamos o santo Graal. Frágeis, esperamos pelo improvável esquecimento de Kronos.

Meu amigo peleja contra o câncer. Sua perplexidade me esvazia de toda e qualquer inspiração. No limbo do diagnóstico, não consigo arrancar poesia das veias. A aberração da esperança não permite beleza. Resta o dever cru de vê-lo resistir. E quem sabe, dar-lhe um pouco do que sobrou de mim.

Soli Deo Gloria

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