junho 25, 2009

Personality goes a long way

por Renato Thibes
Sem querer apelar pra velha máxima do tiozão nostálgico ("no meu tempo era diferente") mas já apelando, eu devo dizer que tenho muito medo dessa nova geração que forma seu caráter e sua personalidade via internet.

Quando comecei a usar esse treco regularmente, eu já era "de maior". Teoricamente, eu já tinha uma base, uma bagagem, uma experiência de vida, por mais limitada que fosse. Eu fiz parte da última geração que aprendeu as vicissitudes da vida no modo offline.

Exemplos: eu já fazia top 100 filmes antes dos usuários do IMDb. Era um ranking mais puro, mais honesto. Era feito sem influência externa, de mim para mim mesmo, e não precisava ser compartilhado. Quando eu comecei a ouvir Bon Jovi era simplesmente porque eu gostava e nunca imaginei que passaria o resto da vida sendo hostilizado por ilustres desconhecidos por causa disso. Porque a opinião alheia simplesmente não importava. Agora pegue estes exemplos cinematográficos e musicais fúteis e aplique para todos os outros segmentos da vida.

Hoje tudo é compartilhado. Mesmo que você não perceba, recebe influências de todos os lados. Dos blogs que você lê aos amigos adicionados no Orkut. Todo mundo tem duas caras: o eu real e o eu virtual. O seu eu virtual pensa antes de escrever no MSN. O seu eu real fala besteira sem pensar. O seu eu virtual é um sedutor que envia flores e convida pra sair. O seu eu real engasga numa conversa de bar. O seu eu virtual lista escritores, músicos e cineastas preferidos. O seu eu real não abre um livro há dois anos, tem meia dúzia de CDs na prateleira e só viu um filme do Woody Allen na vida.

Por isso você sempre deve ficar com um pé atrás. Não confie em ninguém. Por trás de uma lista perfeita de escritores consagrados, existe uma pessoa insegura em busca de auto-afirmação e de amizades forçadas. Não se deixe enganar. Quem fajuta uma lista de filmes pode muito bem disfarçar o próprio caráter.

Virar fã de um artista no Facebook é fácil. Basta um clique. Eu respeito mesmo é quem tem uma história pra contar. "Eu gosto desse cantor porque meu pai ouvia quando eu era pequeno". Esse tipo de coisa. Dá um background para o personagem. A música preferida do pai da Scully é "Beyond the Sea", a música preferida da mãe do Maverick é "(Sittin' On) The Dock of the Bay". Esse tipo de informação demonstra que a pessoa tem um passado antes do filme começar. Ou antes da internet existir. Como eu sempre digo, a vida é um roteiro e você tem que seguir as regras pra não protagonizar um filme muito ruim.

Foi-se o tempo em que "fake profile" era um perfil falso com um nome qualquer e uma foto de outra pessoa. Esconder-se atrás de um apelido ou do anonimato é coisa de adolescente stalker. O grande problema do momento é você ter um perfil real, com seu nome de batismo e sua própria foto recém-tirada por sua novíssima câmera digital de 12 megapixels, e mesmo assim ser fake. Personalidade não é algo que se transmite pelo copy/paste.

Via Blog Registro Dissonante

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