julho 30, 2009

Escrever, vício maldito

Por Ricardo Gondim

Escrevo porque preciso enjaular palavras, cativar o vento divino e eternizar pensamentos diáfanos. Escrevo porque não consigo guardar sentimentos inexprimíveis. Tenho que expelir um entalo que ficou preso no peito e que não sei contar.

Escrevo porque vagabundeio nas estradas da fantasia. Navego à deriva em minhas convicções. Ébrio, serpenteio nas ideias. Sinto o impulso de dizer coisas que ainda não cravei. Anseio por narrar o inenarrável. Apanho, sem saber expor o apertado quarto de onde escapam as minhas lágrimas.

Escrevo porque minha nostalgia não tem cura. Os vestígios trágicos de minha juventude irrequieta clamam por vingança. Minha prosa luta para resgatar o que nunca vivi. Minha poesia só deseja celebrar a beleza que me privei de contemplar, ressuscitar risos que outrora disfarcei e retornar a lugares de onde me ausentei.

Escrevo porque busco remendar o meu coração despedaçado. Não encontro terapia nas conversas voláteis. Quando redijo, remedeio decepções, debelo desesperos, saro feridas. Unto minhas rachaduras com o bálsamo do abecedário. Suo para exprimir o que vai no meu espírito e no turbilhão das sensações, sou curado.

Escrevo porque me viciei em alcançar a perfeição. Ao fazer literatura vislumbro a distante excelência, sabendo que o absoluto está além do meu alcance. Abraço o desafio de superar-me, sempre consciente de minha mediocridade.


Soli Deo Gloria

Via site: Ricardo Gondim

Nenhum comentário:

Postar um comentário