julho 14, 2009

Invisibilidade, Reconhecimento e a Fonte Afetiva do Crime.


" Um jovem pobre e negro caminhando pelas ruas de uma grande cidade brasileira é um ser socilamente invisível. Como já deve estar bastante claro a esta altura, há muitos modos de ser invisível e varias razões para sê-lo. No caso desse nosso personagem, a invisibilidade decorre principalmente do pre-conceito ou da indiferença. Umas das formas mais eficientes de tornam alguém invisível é projetar sobre ele ou ela um estigma, um preconceito. Quando fazemos, anulamos a pessoa e só vemos o reflexo de nossa própria intolerância. Tudo aquilo que distingue a pessoa, tornando-a um individuo; tudo o que nela é singular desaparece. O estigma dissolve a indentidade do outro e a substitui pelo retrato estereotipado e a classificação que lhe impomos.
Quem está ali na esquina não é o Pedro, o Roberto ou a Maria, com sua respectivas idades e histórias de vida, seus defeitos e qualidades, suas emoções e medos, suas ambições e desejos. Quem está ali é o "moleque perigoso" ou a "guria perdida", cujo comportamento passa a ser previsível. Lançar sobre uma pessoa um estigma corresponde a acusá-la simplesmente pelo fato de ela existir. Prever seu comportamento estimula e justifica a adoção de atitudes preventivas. Como aquilo que se prevê é ameaçador, a defesa antecipada será a agressão ou a fuga, também hostil. Quer dizer, o preconceito arma o medo que dispara a violência, preventivamente.
Essa é a caprichosa incongruência do estigma, que acaba funcionando como uma forma de ocultá-lo da consciência crítica de quem o pratica: a interpretação que suscita será sempre comprovada pela prática não por estar certa, mas por promover o resultado temido. Os cientistas sociais diriam que este é um caso típico de "profecia que se autocumpre"."
Luiz Eduardo Soares, MV Bill e Celso Athayde - "Cabeça de Porco" -(Editora Objetiva)

Um comentário:

  1. Olá! Dá uma passada lá no meu blog, tem um selo pra você.
    Premiação justa!

    Um abraço,

    Rodrigo Magalhães

    www.rodrigocmagalhaes.com

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