setembro 21, 2009

O chamado para sumir

Por Paulo Brabo

Depois de mais de três décadas, muito esforço, dedicação, envolvimento, alegrias e sofrimentos, deixei de lado a “igreja formal”. É possível, apesar de pouco provável, que alguns dos leitores desse blog sejam membros da mesma igreja da qual eu participava. A esses, se existirem, um abraço apertado. Não nos veremos mais nos domingos nem nos demais encontros promovidos pela instituição (salvo, talvez, como visitante em alguma situação), mas espero ainda encontrá-los aqui e ali, e poder abraçá-los cheio de saudades.

[...]

Minha cabeça e coração já estavam muito distantes do modelo formal, repleto de cuidados, de excesso de zelo pelo desejo de manter o povo unido e as engrenajens funcionando – e são tantas engrenagens, tantos ministérios, reuniões, assembléias, planos, projetos, números e gráficos. Tudo bem intencionado, creio, mas com o propósito claro de crescer, aparecer e permanecer. E eu já venho há muito sonhando com o diminuir, dispersar, desaparecer e sumir.

[...]

O chamado que um dia aceitei seguir porque me atingiu em cheio o coração e encheu-me de alumbramento, é o chamado para sumir. O que ecoa no meu peito são as palavras de dispersão. Vão – disse o mestre – sejam sal, sejam luz, sempre indo, caminhando, espalhando, dispersando, sumindo na multidão. Sal se dissolve e some. Dá gosto mas, depois que é espalhado, ninguém mais sabe onde está. Sumiu, mas salgou. Luz não se pega, não se toca, ninguém sabe descrever sua aparência. Sabemos que há luz porque tudo se torna visível – mas não sabemos onde ela está, não podemos tocá-la, descrevê-la.

Via : Bacia das Almas

Nenhum comentário:

Postar um comentário