outubro 21, 2009

Vivemos ávidos de felicidade

Ricardo Gondim



Ébrios, buscamos a felicidade; encarnamos personagens pascalinos – “Até os suicidas se enforcam na ânsia de serem felizes”. Os parachoques de caminhão ensinam que "dinheiro não traz felicidade". O contrário, menos popular, também é verdadeiro: Esmolamos qualquer dinheiro para ser felizes. A felicidade ganharia qualquer concurso como padroeira última e maior da existência.

Por anos imaginei que bastaria professar a fé cristã para, automaticamente, encontrar um Nirvana de delícias. Contudo, aprendi, ao longo dos anos, que muitos cristãos, na verdade, nunca experimentaram nenhuma nesga do Paraíso.

Aliás, já deparei com não cristãos gozando uma vida mais ajustada, mais redonda, mais plena do que muitos piedosos. Pastores e sacerdotes deveriam ser mais claros e avisar: A fé cristã não significa felicidade automática.

Há pouco, ouvi um programa evangélico alardeando: “Se você passa por dificuldades, se tem tribulação, basta dizer sim para Jesus e será feliz”. Sem gaguejar, o pregador declarou: “Deus está à sua disposição. Ele quer lhe tirar do sufoco". Depois emendou: “Repita a oração que eu garanto, sua vida será transformada em um piscar de olhos”.

Basta uma semana em qualquer comunidade evangélica para constatar que não acontece assim. Inúmeros convertidos lutam contra miséria em periferias urbanas. Os mais favorecidos não entendem o porquê de mesmo com folga financeira continuarem angustiados, apavorados, sufocados por dívidas no cartão de crédito, ansiosos, irritadiços, insones e nervosos. A pregação, “se converta e você será feliz” é tão falsa quanto um diamante vendido por vinte dólares.

Vida abundante não se acha, é construída. No Sermão da Montanha, os bem-aventurados são chamados de "felizes" não porque passaram por uma experiência mística ou esotérica, mas como resultado do jeito que vivem.

Felicidade não cai do céu. Não vem de fora para dentro, mas flui de dentro para fora. Anjos não brindam as pessoas com alegria. Na cartilha de Jesus o caminho é outro. Buscar o reino de Deus e sua justiça faz brotar os ingredientes que geram felicidade. Para ele, felicidade nunca é estação, mas maneira de viajar.

Eis o motivo porque ser feliz parece difícil. Os caminhos que conduzem a um patamar mais excelente passam por ações pouco atrativas. Quem se arrisca preferir os outros ou esvaziar-se do sonho de virar um semideus? Humildade, indisposição para a arrogância são o contraponto do Evangelho. Daí: “Bem-aventurados os humildes de espírito, porque deles é o reino dos céus”.

Cristo foi diretivo: “Aprenda a chorar”. Paradoxal ao mundo, felicidade tem a ver com sensibilidade, ternura, fragilidade. Por isso: ”Bem-aventurados os que choram, porque serão consolados”.

Também insistiu em um tema pouco popular: “Queira ser manso”. Jesus entendia que mansidão significa abrir mão de reivindicar prerrogativas egoisticamente; significa desistir de querer sempre ganhar. Por isso: “Bem-aventurados os mansos, porque herdarão a terra”.

Cristo indicou o código para uma mente tranquila. “Atreva-se a amar o que é digno”. Os que almejam a felicidade devem, em todos os atos, fazer sempre a pergunta: “Será que isto é justo?”. Para ele, quem ama a justiça e nutre um desejo enorme de vê-la praticada, será feliz. Então: “Bem aventurados os que têm fome e sede de justiça porque serão fartos”.

As palavras de Jesus ainda ressoam: “Queira ser misericordioso para com os fracos, paciente com os que não conseguem alcançar seu padrão e compreensivo com os que se atrasam, fracassam e tropeçam em seus próprios erros”. A atitude empática para com os derrotados desemboca na felicidade. Tal pessoa encontrará compreensão no dia em que precisar, portanto: “Bem-aventurados os misericordiosos porque eles encontrarão misericórdia”.

Jesus convocou seus seguidores a serem coerentes: “Busque ser limpo de coração”. Não permita sombras, caminhos dobres, torpeza, hipocrisia, falsidade ou dolo. Para ele, quem vive uma vida honesta, será feliz. E sua declaração chegou às raias da mais esplêndida ousadia: “Bem aventurados os puros de coração porque eles verão a Deus".

Jesus incentivou a concórdia e ordenou que se promovesse a paz: Não seja agente de cizânias, jamais catalise ódios, não suscite a vingança e nunca espalhe dissensão. Reconcilie os que se odeiam, reuna os diferentes, promova o amor e você será feliz. Daí o texto: “Bem aventurados os pacificadores porque eles serão chamados filhos de Deus”.

Ele aconselha a seus seguidores que sejam pessoas de idéias nítidas, convicções sólidas, pontos de vista verdadeiros. Se essa postura trouxer o ódio alheio e se sua fé não for bem aceita, continue, a história premiou todos os que se comportaram assim. Os claudicantes, os pusilânimes, os covardes jazem nos armazéns do Hades. Ninguém lembra o opressor, os perseguidos são lembrados. O texto reza: “Bem-aventurados sois quando, por minha causa, vos injuriarem, e vos perseguirem, e mentindo disserem todo mal contra vós. Regozijai-vos e exultai, porque é grande o vosso galardão nos céus; pois assim perseguiram aos profetas que viveram antes de vós”.

Felicidade não é circunstancial, ponto final.

Soli Deo Gloria

Via site Ricardo Gondim

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